segunda-feira, 10 de agosto de 2015

A indução para a FIV. Como é?

Depois de 1 ano e meio tentando normalmente, sem ajuda de nenhum medicamento ou procedimento (exceto o ácido fólico, vitaminas e exames periódicos), minha médica recomendou o início do tratamento. Eu já estava muito ansiosa para começar fazia meses e já estava cansada de tantos negativos, mas para ela ainda era cedo. Eu já estava me sentindo atrasada.

Tive uma crise grande de transtorno da ansiedade que se misturou com depressão e fiquei muito mal. Comecei um tratamento grande e me reequilibrei com terapia e medicamento. Foi uma fase bastante difícil...

Então, quando ela recomendou o início eu fiquei muito feliz e super empolgada. A sensação foi de alívio associada a muita expectativa de como seria o tratamento.

Inicialmente usamos um medicamento via oral chamado Clomid, e os resultados foram bons mas não obtive sucesso. Foram 6 meses lendo todos os tipos de reportagens, blogs, grupos de discussão entre mulheres na mesma situação que a minha e, para ser honesta, foi muito estressante. Não é uma situação fácil de lidar pois nos culpamos muito pela situação.

A sensação de infertilidade é muito ruim e pior ainda é a constatação. O início do tratamento é um misto de alegria e dor.

Evitei ler mas não conseguia. Eu revirei a internet atrás de informações que pudessem ajudar e levei tudo muito a sério, como sempre.

Um grande erro é tornar o sexo um ato mecânico, e todo casal cai nessa armadilha, mas chega a ser algo inevitável. Precisamos controlar a temperatura diariamente, fazer gráficos, anotar tudo, usar todos os métodos, melhores posições e, para resumir, eu quase ficava de cabeça para baixo para "colaborar" com a gravidade. Sim, a gente faz isso mesmo e não é brincadeira.

Meses depois a gente para e pensa o quão ridícula está a situação. No nosso caso foi ótimo chegar a essa conclusão porque o sexo voltou, aos poucos, a ser algo natural. Sempre há aquele momento que você se recorda de que está tentando engravidar ou surge um pensamento negativo para atrapalhar o clima, mas acontece. E flui, volta a ser quase natural. O quase existe e não dá pra negar, mas melhora com o tempo. O sexo muda porque você muda e isso não dá para evitar.

E se passaram 6 meses até receber a indicação de que o nosso tratamento deveria ser mais forte. 2 anos se passaram e eu me sentia péssima. O cerco vai se fechando e não há o que fazer se não chorar. É... a gente chora muito e às vezes não sai da cama, não vai para o trabalho e não quer ver ninguém. Isso aconteceu muitas vezes comigo e eu sempre respeitei esse sentimento. Chorar, sofrer, negar, tudo isso faz parte dessa trajetória. Sinceramente não fazia a menor idéia que era tão difícil.

E agora? Como seria?

Há alguns tipos diferentes de tratamento para a FIV (fertilização in vitro) e começamos pelo mais "power hard master plus" porque eu perdi a paciência. Já que era para fazer então vamos fazer direito. E fomos no Gonal.

O Gonal é um dos melhores medicamentos, mas é caro. Como estávamos nos preparando para isso então tínhamos já uma reserva destinada para essa fase. Me lembro do 1° dia de aplicação, estava em pânico! Eu e meu marido juntos, no nosso banheiro, eu às lágrimas e dando uma de forte (sempre faço isso) e lá fomos nós aplicar. Mas quem vai aplicar?

Eu acho que ficamos quase 1 hora lendo a bula, que é quase um livro, com todas as orientações detalhadas. Depois o preparo e então eu me apliquei. Doeu um pouco, muito menos do que imaginava, e quase ri de mim mesma por toda a cena criada.

Enfim, o tratamento com Gonal foi tão bom quanto Clomid. A diferença é que um custa em média 40 reais por 8 comprimidos e o outro custa 780 cada seringa, que dura uns 2 dias de aplicação.

Foi um choque sim pois consegui incríveis 2 óvulos maduros e esperávamos por uns 5 no mínimo. FIV não recomendada pela pequena quantidade de óvulos e partimos para uma inseminação. Mais um negativo.

Depois disso fomos alternando os medicamentos e não tive resposta. Fui diagnosticada como "má respondedora". A causa? A idade.

Daí o negócio ficou feio, fiquei pior do que já estive e foi difícil recomeçar mas a gente segue. Daí vieram os cistos nos ovários, falência de um deles que não responde mais e ciclo irregular. A idade chegou para valer.

Deixei de controlar tudo: datas, temperaturas, peso (ganhei 5 quilos), deixei de levar a sério e me dei um tempo. Comecei com a pílula (é.... pílula anticoncepcional, acreditem) pois ela seria o solução do meu problema com os cistos. Imagina você, tentando ficar grávida e se ver tomando pílula anticoncepcional?! É pra acabar com qualquer bom humor e esperança.

Mas vamos lá, com cisto = sem óvulos. Então tomar a pílula era inevitável. Tomei e alguns meses depois os cistos se foram. E cá estou recomeçando com Gonal. Ele foi a melhor resposta que tive, por pior que tenha sido minha resposta. Foram 2 óvulos maduros e já é alguma coisa, então vamos tentar de novo.

Dessa vez, minha médica foi coagida a ser muito mais "power hard blaster punk" e estou também com Menopur, que tem a mesma finalidade que o Gonal, mas tem propriedades diferentes. A idéia é atacar por todos os lados e ver como meu organismo reage a essa conduta.

Agora é torcer para dar certo, aplicar os dois todos os dias (ambos são injetáveis) e manter a calma. O monitoramento se dá pra exames periódicos para verificar o desenvolvimento dos óvulos.

Daniela.

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Estaca zero?

Voltando à estaca zero? Talvez sim... talvez não...

Eu, casada, feliz, três longos, intermináveis, pesados, cansativos e sacrificantes anos tentando ficar grávida. Quatro anos e meio casada e muito feliz. Falta só um detalhe. Não... não é só um detalhe.

Tentativas? Muitas!
Negativos? Já perdi as contas...
Exames? Já sou chamada pelo meu nome no laboratório, e não precisam ler o protocolo.
Medicamentos? Sim, alguns bem caros.

Onde foi que errei? O que será que esqueci? Porque eu não consigo?

O fato é que demorei muito, confiei demais nos discursos alheios de que as mulheres hoje em dia podem tudo, a medicina está aí para isso, um avanço extraordinário na tecnologia, mil tratamentos a seu favor, etc etc etc. Só que estou com mais de 40 (41 para ser mais exata, e o tempo voou e a medicina ainda não fabrica óvulos jovens por encomenda. Não há um banco de óvulos e um dia a casa cai.

Sim, nós mulheres estamos conquistando cada vez mais o nosso espaço no mercado de trabalho, ganhamos cada vez mais, crescemos cada vez mais, e deixamos de lado as nossas vidas familiares e adiamos ao máximo a maternidade. Programamos tudo, ano a ano, como se a nossa vida, o nosso dia a dia fosse algo a ser programado e não vivido, e deixamos por último (sim, ultimo dos últimos) a maternidade que nos assusta tanto por parecer um peso grande e lutamos muito para conquistar tudo o que sempre sonhamos.

Sonhamos? Sonhamos mesmo ou sonharam por nós?

Cresci em uma família de pais separados (minha geração é essa) e fomos educadas (no feminino mesmo) a sermos independentes, bem sucedidas, auto suficientes, para somente depois pensar na "possibilidade" de sermos mães. E nossos companheiros, namorados, maridos (que são da mesma geração) foram educados para terem ao seu lado mulheres independentes, inteligentes e descoladas.

Não, não estou culpando minha educação, minha geração, os homens ou minha experiência na minha casa. Sim, tudo isso influenciou para a minha decisão de adiar ao máximo a maternidade.

E me arrependo.

Três anos tentando e, agora, me vejo mudando de médico. Vou me arrepender? Não.

Há um momento no tratamento que começamos a questionar o empenho do profissional que está nos acompanhando, pois nos sentimos desacreditados, inclusive por nós mesmos. E este é o momento.

Foram muitas tentativas, todos os protocolos seguidos, tudo feito da forma correta, uma neurose absurda com datas, horários, temperaturas, gráficos, testes, muita expectativa e muita frustração.

A decisão de mudar de médico ou de escutar uma segunda opinião foi adiada também... Tantas pessoas me perguntaram ou sugeriram que eu deveria ter feito isso, mas eu tive medo, e ainda tenho, pois parece que estou voltando à estaca zero.

E o zero, mesmo para quem não tem nada, dói.

Daniela.